Obesidade é uma doença crônica que merece respeito e tratamento!
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- Como é definida obesidade?
- Classficação de Peso pelo IMC
- Obesidade é genética? Quais são as causas da obesidade?
- Quais as consequências da obesidade?
- Doenças causadas pela obesidade
- Obesidade saudável existe?
- É preciso ser magro para ser saudável? Quanto peso preciso perder?
- O que é obesidade sarcopênica?
- Reganho de peso e efeito sanfona. Obesidade é pra sempre?
- Transtornos alimentares - diferença entre compulsão e exagero alimentar
Ou veja o texto completo a seguir. Boa leitura!
A obesidade é uma doença que vem aumentando no mundo todo, em todas faixas etárias, um pouco mais em mulheres do que em homens. No Brasil a prevalência de obesidade aumentou em 67% entre 2006 e 2018 e é extremamente importante nos conscientizarmos sobre ela, retirar estigmas, tratar para melhorar saúde física e mental.
Como é definida obesidade?
Obesidade é considerada uma DOENÇA CRÔNICA, não transmissível, que se caracteriza pelo excesso de gordura e a medida mais utilizada para a classificação é o índice de massa corporal (IMC), uma fórmula que leva em consideração o peso e a altura. Conforme o valor do IMC a pessoa pode ser considerada com baixo peso, peso normal, sobrepeso, obesidade grau 1, obesidade grau 2 e obesidade grau 3 (antigamente também chamada de obesidade mórbida, mas não utilizamos mais esse termo pela estigmatização). Existem tabelas próprias para crianças e para idosos.
Classficação de Peso pelo IMC
FÓRMULA DO IMC
IMC = peso (kg)/ altura x altura (m)
CLASSIFICAÇÃO | IMC (kg/m2) | Grau/classe de obesidade | Risco de comorbidades |
---|---|---|---|
Magro ou baixo peso |
<18,5 | 0 | Normal ou elevado |
Peso normal | 18,5-24,9 | 0 | Normal |
Sobrepeso ou pré-obeso | 25,0-29,9 | 0 | Pouco elevado |
Obeso | 30,0-34,9 | I | Elevado |
Obeso | 35,0-39,9 | II | Muito elevado |
Obeso grave | >=40 | III | Muitíssimo elevado |
A classificação pelo IMC, embora amplamente utilizada, tem suas limitações uma vez que não consegue levar em conta o percentual de gordura e massa muscular nem a sua distribuição, fatores que sabemos serem importantes para o risco de doenças relacionadas à obesidade. Para isso podemos realizar exames como bioimpedância, DEXA, pregas cutâneas para obter esses dados importantes.
Outras formas de classificar a obesidade é pela sua distribuição de gordura. Quando ocorre acúmulo de gordura no abdome chamamos de obesidade andróide ou central, quando a maior parte encontra-se em pernas, glúteos e braço chamamos de obesidade ginecóide ou periférica. Existe também diferenciação quanto ao local de depósito que pode ser subcutâneo (abaixo da pele) ou como gordura visceral (dentro do abdome, mais associada as consequências da obesidade).
Obesidade é genética? Quais são as causas da obesidade?
A genética associada a um ambiente obesogênico (grande oferta de alimentos hipercalóricos com um estilo de vida cada vez mais sedentário) são os principais desencadeantes da obesidade. Filhos de pais obesos têm 80% de chance de se tornarem obesos na vida adulta, enquanto que filhos de pais com peso normal têm 15% de chance. A genética tem um impacto, mas não é determinante para o desenvolvimento da obesidade.
O que causa a obesidade é o excesso de consumo de calorias e baixo gasto energético. Muitas vezes as calorias são subestimadas, seja pelo tamanho do alimento, pela porção, por falta de conhecimento, por consumir com desatenção, etc. A fome também não é igual para todos, existem muitos hormônios reguladores da fome e saciedade. Sem falar que comer não é apenas um ato fisiológico, mas também social, emocional, cultural. Quanto ao gasto energético, a tecnologia tem nos deixado cada vez menos ativos (escadas rolantes e elevadores, carros, controle remoto, comando de voz, videogame, celular, etc), associado a um ritmo frenético que nos empurra para o sofá ao final do dia. Manter um estilo saudável está cada vez mais desafiador e só quando colocamos as devidas prioridades nele que conseguimos nos desvencilhar dessas armadilhas do mundo obesogênico.
Em raras ocasiões nos deparamos com obesidade secundária a alguma doença como por exemplo: síndrome de cushing, hipogonadismos, insulinoma, síndrome Prader Willi, lesões no hipotálamo (seja por tumor, cirurgia, trauma, radioterapia), medicações (como cor ti cói des, an ti psi có ti cos, anti con vul si van tes). Para suspeitar e fazer o diagnóstico diferencial é importante procurar um endocrinologista, médico especialista em obesidade.
Quais as consequências da obesidade?
Além do impacto na disposição física, saúde mental, auto-estima, a obesidade também pode aumentar substancialmente o risco de outras doenças. Além disso, pode levar a redução da expectativa de vida em 5 a 20 anos e/ou redução da capacidade produtiva (de trabalho).
Doenças causadas pela obesidade
- Diabetes Mellitus Tipo 2
- Doença Hepática Gordurosa (Esteatose Hepática)
- Hipertensão Arterial
- Insuficiência cardíaca
- Aumento do colesterol
- Infarto Do Miocárdio
- Acidente Vascular Cerebral (Avc/ Derrame)
- Demências
- Osteoartrite (desgastes nas articulações que geram dor e limitação de movimento)
- Apneia Obstrutiva Do Sono
- Vários Tipos De Câncer (útero, próstata, mama, cólon)
Obesidade saudável existe?
Muitas vezes ouvimos esse termo quando relacionamos pessoas com obesidade e exames laboratoriais normais, mas será que isso existe? Já citamos diversas doenças possivelmente evitáveis que possuem íntima relação com a obesidade. Um estudo francês recente avaliou obesos metabolicamente saudáveis e pessoas com IMC normal ao longo de 5 anos, não houve diferença em relação a mortalidade cardiovascular, infarto ou AVC nesse período, mas houve aumento de mais de 30% de insuficiência cardíaca e fibrilação atrial (arritmia) no grupo de obesos saudáveis em comparação com grupo de IMC normal, doenças que impactam na qualidade de vida e necessitam de tratamento por toda vida. Em longo prazo sabemos que existe redução de anos de vida por causa da obesidade. Então o que fazer? (Re)começar novos hábitos! Procure um endocrinologista para te ajudar nesse processo!
É preciso ser magro para ser saudável? Quanto peso preciso perder?
Já sabemos que não precisa chegar a "normalizar" o IMC para ter os benefícios da perda de peso! Perdas iniciais de 5%-10% já começam a trazer benefícios como melhora de mobilidade, dores musculares, aumento de qualidade de vida e redução de depressão, aumento de fertilidade. Perdas de 10-15% reduz gordura no fígado (esteatose hepática) e chances de AVC e infarto. Perdas maiores que 15% diminui a mortalidade! Assim, não precisa chegar ao IMC de 25kg/m2 , inicie o processo de emagrecimento, de forma contínua, sem pressa, comemorando pequenas metas alcançadas e novos hábitos instituídos!
Baseado nesses ganhos mesmo sem normalizar o IMC recentemente foi sugerida uma nova classificação da obesidade: a OBESIDADE CONTROLADA! O que isso significa? Pessoas com IMC inicial de 30-40 kg/m2 ou >40 kg/m2 que conseguiram perder 10 e 15% do peso, respectivamente, e mantiveram essa perda é considerada uma pessoa com obesidade controlada !
O que é obesidade sarcopênica?
A obesidade sarcopênica é a combinação de aumento de gordura corporal com redução de força e massa muscular. Com o passar dos anos ocorre perda de massa muscular caso não haja estímulo para seu fortalecimento e manutenção. Somado a isso, nos tornamos menos ativos, o que contribui com o balanço calórico positivo e acúmulo de gordura. Uma forma de analisarmos a proporção entre gordura e músculo é através do exame de bioimpedância. Eu sempre lembro aos meus pacientes: músculo é nossa forma de manter a independência para realizar nossas atividades básicas do futuro, ingerir uma quantidade adequada de proteínas e fazer exercícios de força são a fonte da juventude!
Reganho de peso e efeito sanfona. Obesidade é pra sempre?
Quase todas as pessoas acima do peso em algum momento já tentaram emagrecer, mais que uma, duas ou três vezes e voltaram a reganhar o peso. Por que isso ocorre? O efeito sanfona nada mais é que uma tentativa do nosso corpo voltar com os estoques de energia (gordura) que já teve um dia, seria uma forma evolutiva de proteção para períodos de escassez. Assim, quando perdemos peso, ocorre uma redução do metabolismo e aumento dos hormônios da fome, tudo isso para evitar o déficit calórico negativo. Perder peso é uma vitória, manter o peso é um desafio diário! Uma das estratégias para evitar o reganho é o automonitoramento do peso semanal, ligando um sinal de alerta quando aumentar 2 kilos acima do estabelecido para redobrar a atenção quanto ao consumo de calorias e a prática de exercícios. Se necessário retornar ao endocrinologista para ajuste de medicações.
Transtornos alimentares - diferença entre compulsão e exagero alimentar
Transtorno da compulsão alimentar é uma doença com critérios bem estabelecidos para o diagnóstico, presente em 2-3% da população geral, mas entre obesos pode chegar a quase 50% segundo alguns estudos. Entre os critérios diagnósticos temos: comer uma grande quantidade de alimentos em um curto período de tempo mesmo sem estar com fome até sentir-se estupidamente cheios, sem alimentos preferenciais, com sentimento de culpa e angústia após, muitas vezes comendo sozinho por vergonha da quantidade, pelo menos 1 vez por semana nos últimos 3 meses, sem realizar medidas compensatórias (vômitos ou excesso de exercícios por exemplo).
Felizmente existe uma medicação aprovada para o tratamento do transtorno da compulsão alimentar, a lis de xan fe ta mi na (ven van se ou ju ne ve), capaz de reduzir o número de episódios de compulsão trazendo maior controle sobre os impulsos. Outras medicações como to pi ra ma to podem também ter algum efeito. Para o diagnóstico e tratamento procure um endocrinologista de confiança ou um psiquiatra. A terapia comportamental também é uma excelente opção no tratamento.
Diferente do transtorno de compulsão alimentar, o exagero acontece com alimentos específicos e/ou altamente palatáveis (como chocolate, sua comida preferida, refeições de datas festivas) de forma que não gera sofrimento nem tem recorrência. Para esses casos, algumas estratégias envolvem ter conhecimentos dos alimentos que podem desencadear esse comportamento, não ter disponível na despensa, fazer porções prévias de consumo ao invés de ter a caixa ou recipiente pronto para pegar mais um pouco. A terapia cognitivo comportamental também pode auxiliar nesses pontos de gatilhos para o exagero.
Cuidado ao procurar qualquer médico para emagrecer! Essa é uma área de alta procura e existem pessoas prometendo milagres com fórmulas para emagrecer não reconhecidas pela ANVISA e sociedades médicas e sem estudos científicos de relevância. Mesmo aqueles chamados "remédios naturais para emagrecer" podem levar riscos à saúde. Endocrinologista é o especialista para o tratamento da obesidade, procure um médico com boa formação, atualização na área e certifique-se que tem registro de especialista RQE no site do conselho federal de medicina. Para mais informações sobre remédios para emagrecer consulte a página tratamento da obesidade.
Referências:
3o Tratado de Obesidade.
Diretriz Brasileira de Obesidade.
Livro-texto de obesidade: uma visão clínica e abrangente da ABRAN.
Dra. Luciana Oharomari
CRM-SP: 192282 / CRM-MG 93060
RQE CLÍNICA MÉDICA: 91876
RQE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA: 102761
Curriculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7066045371307292
Graduada em Medicina, pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto, com Título de Especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).